“As famílias não devem fazer da escola uma extensão de suas casas. Ao contrário: a escola complementa a educação que os pais têm de dar”. A consideração foi feita pelo presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALMS), deputado Paulo Corrêa (PSDB), antes de palestra, que marcou o início das ações do “Abril Verde”, campanha de prevenção a acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, promovida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 24º Região, com participação do Parlamento Estadual, entre outras entidades.
O evento, realizado no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, no Parque dos Poderes, na Capital, reuniu quase 2 mil professores, que ocuparam dois auditórios e o saguão do local. Na ocasião, o psicólogo e escritor Rossandro Klinjey ministrou palestra, intitulada "Educação é lugar de saúde, não de doença".
O deputado Paulo Corrêa enfatizou a importância do evento, parabenizando a iniciativa do TRT. “É importante começarmos o ‘Abril Verde’ com os professores, que podem ajudar a disseminar informações da campanha”, disse. E acrescentou: “A campanha ‘Abril Verde’ representa o verde da esperança, para não termos mais acidentes de trabalho”.
Outro parlamentar que também esteve presente ao evento foi o deputado estadual Onevan de Matos(PSDB). “Como bem afirma o título da palestra, a educação é lugar de saúde e não de doença”, enfatizou o deputado, que considerou o encontro de suma importância, especialmente aos professores da rede municipal de ensino.
Educação, lugar de saúde
“Não é fácil ser professor em um ambiente hostil, de violência, como é o caso das escolas públicas no Brasil”, comentou Rossandro Klinjey. “Os professores da rede pública têm, no Brasil, grande sofrimento psíquico. Isso está ligado a um desrespeito na relação de alunos e de seus pais com os educadores. Há uma ideia de competição entre pais e professores, quando deveria existir união em prol dos alunos”, completou.
Klinjey destacou o problema da violência, com “tráfico de drogas nas escolas e alunos armados em sala de aula”, como um dos fatores de doenças psíquicas dos professores. “Conhecemos essa realidade, mas, apesar disso, o professor precisa entender, primeiramente, que desistir não é opção. Não podemos desistir da educação, como projeto para o Brasil. Nenhuma nação conseguiu se desenvolver sem passar pela educação”, acrescentou.
O especialista considerou, ainda, que os alunos, assim como os professores, também são vítimas. “Os olhos para eles também deve ser de acolhimento, de ajuda. E, para que isso ocorra, o professor precisa de estrutura”, disse. “A gente tem que criar um consenso sobre a educação e sobre o professor para que ele tenha a importância que a sociedade ainda não lhe concede”, enfatizou.
A família tem, conforme o psicólogo, papel fundamental. “Filhos que não respeitam pais e mães, não respeitam a autoridade, não respeitam o professor e não veem como importante o que ele ensina. É um efeito dominó”, afirmou o especialista, que considera que muitas demandas, que seriam da família, estão sendo transferidas às escolas.
Quadro crítico
É crítico o quadro de saúde dos educadores e os números estão piorando, conforme salientou o juiz do Trabalho Márcio Alexandre da Silva, gestor regional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem da Justiça do Trabalho.
Ele mencionou dados da Previdência Social, que mostram que as notificações de acidentes com professores da rede pública municipal de Campo Grande aumentaram de 23, em 2017, para 64, em 2018. “Isso são apenas acidentes que envolveram os professores fisicamente. Ou seja, não dizem respeito a doenças mentais, que, no Brasil, correspondem à terceira maior causa de afastamento do trabalho. Então, a situação é muito mais crítica”, informou.
O prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), que também participou do evento, salientou a relevância da discussão sobre saúde psíquica do professor. “Isso é o que há de mais importante. É preciso discutir não apenas estrutura e questões pedagógicas, mas também as condições mentais do professor, que absorve todo o estresse do dia a dia e ainda precisa lidar com uma sala de aula”, disse.
Entre as autoridades, também estiveram presentes no evento o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Lelio Bentes Corrêa, o presidente do Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação (ACP), Lucílio Nobre, e a desembargadora Maria Beatriz Theodoro Gomes, do TRT, da 23ª Região.