As palavras que Claudemir Aparecido Albino tanto queria ouvir foram pronunciadas: "você terá emprego, salário e moradia". É ele o senhor de 43 anos, que permaneceu dias sentado no banco de uma praça em Campo Grande, tendo apenas uma mala preta como companheira. A cena comoveu a estudante Andrezza Zanin, de 25 anos, que fez uma postagem no Facebook e o acompanhou em entrevistas.
"Ele será caseiro e também fará a limpeza em um espaço de eventos. Lá terá um salário, alimentação e um local quentinho para dormir, inclusive ele já passou esta noite lá. Ele me disse que não quer nada de graça e eu espero que dê muito certo. Eu já tentei fazer isso com usuários de drogas, porém, quando recebiam o salário eles sumiam de cinco a seis dias. Então, fui em busca de ajudar quem realmente está querendo", afirmou ao G1 o empresário Glauco Cesar Severo Umar, de 46 anos.
Glauco conta que soube da história nas redes sociais. "Eu penso que todos nós temos uma missão e precisamos colocá-la em prática. Então, quando li sobre ele, decidi ajudar. Não é algo que eu comecei agora, faço desde sempre, faz parte da minha religião espírita. Eu disse a ele que não terá despesas de água, luz e deve guardar o dinheiro dele. Espero muito que dê certo, porque pretendo ajudar outras pessoas da mesmo forma também", comentou.
Sentado no banco
A técnica de enfermagem e estudante de psicologia, Andrezza Zanin, de 25 anos, foi quem escreveu sobre Claudemir. Na manhã de quarta-feira (22), ela chegava do plantão e iria dormir em casa, até o horário de almoçar e seguir para a faculdade. No trajeto, viu o senhor sentado no banco de uma praça, na Orla Morena, em Campo Grande. Com a conversa, ele contou que era morador de rua e buscava um emprego.
"Era 6h40 [de MS] quando eu passava na frente da orla, moro ali no bairro Cabreúva. Eu vi ele, com a mala. Cheguei em casa ainda pensando porque ele poderia estar ali. Mas, confesso, tive receio e medo. Quando acordei, sai para almoçar e não o vi. O sol estava forte, acho que por isso ele saiu dali. Só que quando retornei, umas seis e pouco da tarde, ele estava do mesmo jeito. Decidi então falar com ele", comentou na ocasião Andrezza.
Segundo a estudante de 25 anos, um amigo estava na casa dela e a jovem então pediu para ele ir junto. "Eu perguntei: o senhor está perdido? Ele demorou um pouco e respondeu: Não moça. Para falar a verdade, estou procurando emprego, uma oportunidade para trabalhar. Em seguida, me contou a história dele, mostrou o que tinha na mala, os currículos e até as roupas que tinha lavado e estavam secando ali perto para ele ir limpo nas entrevistas", disse.
Andrezza comentou ainda se ele já havia procurado agências de emprego e também o abrigo da prefeitura. "Ele disse que já tinha feito algumas entrevistas e todos disseram não quando ele respondeu que não possuía residência fixa, que era morador de rua. Eu não quis entrar na questão pessoal, da família dele, só fiquei sabendo que ele veio de São Paulo em busca de oportunidade. No abrigo ele disse que passou apenas uma noite e não ficou mais porque tinham muitos usuários de droga lá", ressaltou.
De acordo com a estudante, o senhor disse que possui experiência como tratorista de máquinas e auxiliar de serviços gerais. "Eu vi nele uma pessoa boa. Também conversei com vendedores de carrinhos de lanche e todos disseram que ele já estava ali há alguns dias. Fiz o meu depoimento nas redes sociais e fiquei assustada depois, com centenas de compartilhamentos e gente oferecendo comida, falando de emprego e me pedindo para chamar no WhatsApp. Ao mesmo tempo, parei para pensar o quanto sou abençoada com tudo que tenho", argumentou.
Ontem a estudante o acompanhou em entrevistas e depois comemorou com ele a oportunidade de emprego. "Acho que esse é o primeiro passo que a gente precisa dar. Foram várias ofertas que ele teve e, assim como ele, muita gente deve estar precisando também. Eu vou inclusive passar tudo isso adiante", finalizou.