Há exatamente um ano, por volta de 19h, o comerciante Jorge Rafaat Toumani seguia para casa após deixar sua loja de pneus no Centro de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha de Ponta Porã (MS), a 323 km de Campo Grande. Ele dirigia seu utilitário Hammer preto blindado e era acompanhado por uma dúzia de seguranças armados com fuzis, que seguiam em outros carros.
Empresário respeitado do lado paraguaio, com forte influência no poderoso comércio de importados de Pedro Juan, Rafaat estava condenado no Brasil por tráfico internacional e na fronteira era conhecido como o “chefão” do crime organizado e até então intocável.
Entretanto, naquela noite de 15 de junho de 2016 tinha um obstáculo no caminho de Rafaat: um “exército” de sicários – como os matadores profissionais são chamados nos países latino-americanos – estava preparado para eliminar o “padrinho” da fronteira e abrir espaço para novos grupos criminosos.
Os tiros da metralhadora antiaérea calibre 50, estrategicamente instalada na traseira de uma SUV roubada na Argentina, romperam a blindagem da Hammer de Jorge Rafaat enquanto seus seguranças tentavam, em vão, defender o patrão.
A cabeça e o peito de Rafaat ficaram estraçalhados pelas balas de metralhadora. Dez seguranças do criminoso foram presos após troca de tiros com policiais paraguaios, mas, curiosamente, todos os pistoleiros que atacaram Rafaat fugiram, com exceção do homem que manuseou a metralhadora, o brasileiro Sergio Lima dos Santos.
Ferido na boca por um tiro disparado pelos seguranças de Rafaat, ele foi abandonado em um hospital na região metropolitana de Assunção, onde foi preso. Atualmente está no presídio de Tacumbu, na capital paraguaia, como acusado pela morte do narcotraficante, mas as investigações pouco avançaram até agora.
Pavão e PCC – A morte de Rafaat mudou a rotina da fronteira. As execuções à luz do dia, que sempre existiram na divisa entre as duas cidades, passaram a ser mais frequentes. Até os roubos de carros aumentaram de um dia para o outro. Era o começo de uma nova fase, o domínio das facções brasileiras, que agora travam uma guerra pelo controle do tráfico de drogas e de armas.Alguns dias após a morte de Rafaat, policiais paraguaios apontaram como mentor da execução o ex-sócio dele, o também brasileiro Jarvis Gimenez Pavão, um filho de Ponta Porã que desde 2009 cumpre pena por lavagem de dinheiro em Assunção.Segundo a inteligência da polícia paraguaia e os comentários que correm de boca em boca nas ruas de Pedro Juan, Pavão se aliou a membros do PCC após ser preso e tramaram a morte de Rafaat, para assumirem juntos o controle do crime organizado na região.Rafaat era inimigo das facções brasileiras. “Ele não aceitava o povo do PCC, do Comando Vermelho, achava que era tudo gente sem qualidade, que não respeitava nada, assaltava, estuprava”, disse ao Campo Grande News um policial de Pedro Juan, cinco meses após a morte do chefão do crime.Em setembro do ano passado, Jarvis Pavão negou, em entrevista ao jornal ABC Color, que tivesse mandado matar Rafaat. “Éramos amigos”, disse ele, contando que um mês antes de morrer, Rafaat o visitou na cadeia.
Pavão e PCC – A morte de Rafaat mudou a rotina da fronteira. As execuções à luz do dia, que sempre existiram na divisa entre as duas cidades, passaram a ser mais frequentes. Até os roubos de carros aumentaram de um dia para o outro. Era o começo de uma nova fase, o domínio das facções brasileiras, que agora travam uma guerra pelo controle do tráfico de drogas e de armas.
Alguns dias após a morte de Rafaat, policiais paraguaios apontaram como mentor da execução o ex-sócio dele, o também brasileiro Jarvis Gimenez Pavão, um filho de Ponta Porã que desde 2009 cumpre pena por lavagem de dinheiro em Assunção.
Segundo a inteligência da polícia paraguaia e os comentários que correm de boca em boca nas ruas de Pedro Juan, Pavão se aliou a membros do PCC após ser preso e tramaram a morte de Rafaat, para assumirem juntos o controle do crime organizado na região.
Rafaat era inimigo das facções brasileiras. “Ele não aceitava o povo do PCC, do Comando Vermelho, achava que era tudo gente sem qualidade, que não respeitava nada, assaltava, estuprava”, disse ao Campo Grande News um policial de Pedro Juan, cinco meses após a morte do chefão do crime.
Em setembro do ano passado, Jarvis Pavão negou, em entrevista ao jornal ABC Color, que tivesse mandado matar Rafaat. “Éramos amigos”, disse ele, contando que um mês antes de morrer, Rafaat o visitou na cadeia.
A fronteira sangra - “Pode parecer irônico, mas não temos mais a mesma segurança que tínhamos antes. Mas a vida segue. Sempre que cai um cabeça do crime logo aparece outro”, disse ontem (14) um morador de Pedro Juan Caballero. Segundo ele, mesmo da cadeia, Pavão é o bandido mais temido atualmente na cidade.Entretanto, as opiniões divergem sobre qual grupo criminoso manda mais após a morte de Rafaat. “Além do PCC e do Comando Vermelho, até a FND [Família do Norte] está presente aqui na fronteira, lutando para ocupar seu espaço na distribuição de drogas e de armas. O Pavão está quebrado [sem dinheiro] e o PCC está dividido aqui”, disse outro morador.Em março deste ano, o irmão de Jarvis, Ronny Gimenez Pavão, aparentemente sem ligação com o crime organizado, foi executado enquanto caminhava pelas ruas de Ponta Porã.As mortes de pessoas crivadas de tiros de fuzil a qualquer hora do dia continuam acontecendo nas duas cidades. Mas os crimes estão cada vez mais violentos.Um paraguaio foi esquartejado e os pedaços do corpo jogados em sacos pretos, no dia 22 de março deste ano. Na semana passada, duas irmãs foram sequestradas, decapitadas e os corpos queimados em uma caminhonete. Elas eram amigas do homem esquartejado, apontado como suspeito de envolvimento na morte do irmão de Pavão.“Rafaat era um criminoso como outro qualquer, que mandava matar seus inimigos, que eliminava qualquer ameaça”, disse um policial brasileiro, que não aceita essa imagem de “pai da fronteira” que Rafaat assumiu após o fim do império de Fahd Jamil Georges.
A fronteira sangra - “Pode parecer irônico, mas não temos mais a mesma segurança que tínhamos antes. Mas a vida segue. Sempre que cai um cabeça do crime logo aparece outro”, disse ontem (14) um morador de Pedro Juan Caballero. Segundo ele, mesmo da cadeia, Pavão é o bandido mais temido atualmente na cidade.
Entretanto, as opiniões divergem sobre qual grupo criminoso manda mais após a morte de Rafaat. “Além do PCC e do Comando Vermelho, até a FND [Família do Norte] está presente aqui na fronteira, lutando para ocupar seu espaço na distribuição de drogas e de armas. O Pavão está quebrado [sem dinheiro] e o PCC está dividido aqui”, disse outro morador.
Em março deste ano, o irmão de Jarvis, Ronny Gimenez Pavão, aparentemente sem ligação com o crime organizado, foi executado enquanto caminhava pelas ruas de Ponta Porã.
As mortes de pessoas crivadas de tiros de fuzil a qualquer hora do dia continuam acontecendo nas duas cidades. Mas os crimes estão cada vez mais violentos.
Um paraguaio foi esquartejado e os pedaços do corpo jogados em sacos pretos, no dia 22 de março deste ano. Na semana passada, duas irmãs foram sequestradas, decapitadas e os corpos queimados em uma caminhonete. Elas eram amigas do homem esquartejado, apontado como suspeito de envolvimento na morte do irmão de Pavão.
“Rafaat era um criminoso como outro qualquer, que mandava matar seus inimigos, que eliminava qualquer ameaça”, disse um policial brasileiro, que não aceita essa imagem de “pai da fronteira” que Rafaat assumiu após o fim do império de Fahd Jamil Georges.
Quem foi Jorge Rafaat – Comerciante influente no comando dos negócios em Pedro Juan, Jorge Rafaat Toumani tinha dupla nacionalidade e havia se formado em direito na oitava turma de uma faculdade particular de Dourados, em 1987. Além de Rafaat, estava entre os 82 formandos daquela turma o atual secretário de Justiça e Segurança Pública, José Carlos Barbosa.Na década de 80, o capo mafioso já tinha se estabelecido em território paraguaio. Documentos de migração obtidos pelo jornal ABC Color mostram que Rafaat, natural de Mato Grosso do Sul, se radicalizou em Pedro Juan Caballero em 1987, no ano em que se formou em direito.No início dos anos 90, Jorge Rafaat conheceu Luiz Carlos da Rocha, conhecido como “Cabeça Branca”, que se tornaria um aliado vital para o poder que o narcotraficante ganhou nos anos seguintes.Juntos, eles fortaleceram a rede de distribuição de maconha que Rafaat já tinha criado no Paraguai. Através dessa aliança, os dois montaram uma poderosa rede para distribuição da cocaína produzida no Peru e na Bolívia, que entrava no Brasil pela fronteira com MS.Protegido por um exército de sicários, Rafaat montou um império e se tornou o único “padrinho” do crime organizado na fronteira. Com a prisão de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Rafaat ampliou as alianças com os narcotraficantes de outros países e assumiu o fornecimento de drogas para os morros cariocas.No Paraguai, Rafaat eliminava quem cruzava seu caminho e junto com Cabeça Branca acabou com os concorrentes no negócio bilionário das drogas. Autoridades brasileiras e paraguaias que atuam no combate ao narcotráfico afirmam que a organização de Rafaat movimentava 3 milhões de dólares por mês, só com o tráfico de cocaína.
Quem foi Jorge Rafaat – Comerciante influente no comando dos negócios em Pedro Juan, Jorge Rafaat Toumani tinha dupla nacionalidade e havia se formado em direito na oitava turma de uma faculdade particular de Dourados, em 1987. Além de Rafaat, estava entre os 82 formandos daquela turma o atual secretário de Justiça e Segurança Pública, José Carlos Barbosa.
Na década de 80, o capo mafioso já tinha se estabelecido em território paraguaio. Documentos de migração obtidos pelo jornal ABC Color mostram que Rafaat, natural de Mato Grosso do Sul, se radicalizou em Pedro Juan Caballero em 1987, no ano em que se formou em direito.
No início dos anos 90, Jorge Rafaat conheceu Luiz Carlos da Rocha, conhecido como “Cabeça Branca”, que se tornaria um aliado vital para o poder que o narcotraficante ganhou nos anos seguintes.
Juntos, eles fortaleceram a rede de distribuição de maconha que Rafaat já tinha criado no Paraguai. Através dessa aliança, os dois montaram uma poderosa rede para distribuição da cocaína produzida no Peru e na Bolívia, que entrava no Brasil pela fronteira com MS.
Protegido por um exército de sicários, Rafaat montou um império e se tornou o único “padrinho” do crime organizado na fronteira. Com a prisão de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Rafaat ampliou as alianças com os narcotraficantes de outros países e assumiu o fornecimento de drogas para os morros cariocas.
No Paraguai, Rafaat eliminava quem cruzava seu caminho e junto com Cabeça Branca acabou com os concorrentes no negócio bilionário das drogas. Autoridades brasileiras e paraguaias que atuam no combate ao narcotráfico afirmam que a organização de Rafaat movimentava 3 milhões de dólares por mês, só com o tráfico de cocaína.
Polícia e políticos na folha - “Com esse dinheiro podiam comprar policiais, promotores, juízes e assegurar proteção política. Vários homens ligados à organização de Rafaat chegaram a se candidatar em várias ocasiões, principalmente no Paraguai”, escreveu o jornal ABC Color, um mês após a morte do narcotraficante.Empresário e agricultor no Paraguai e traficante condenado no Brasil. Essa era a vida de Jorge Rafaat. Em 2013, ele seu irmão Joseph Rafaat Toumani e Luiz Carlos da Rocha foram condenados pelo juiz federal Odilon de Oliveira.Cabeça Branca pegou 34 anos de cadeia, Jorge Rafaat foi condenado a 47 anos de prisão e seu irmão Joseph a 15 anos. Mesmo antes da sentença, Cabeça Branca já tinha desaparecido e seu paradeiro e desconhecido até hoje.Novos tempos – No ano passado, poucos meses antes de Rafaat ser morto, o Departamento Especializado de Luta contra o Narcotráfico do Paraguai havia iniciado uma investigação contra ele por lavagem de dinheiro vinculado ao narcotráfico.Para policiais paraguaios, Rafaat morreu porque tentou manter na fronteira a estrutura mafiosa que herdou de Fahd Jamil, em que existia apenas um dono do poder. Esse método contrariava os planos das facções criminosas, que atuam como cooperativas e dividem os lucros e os prejuízos.
Polícia e políticos na folha - “Com esse dinheiro podiam comprar policiais, promotores, juízes e assegurar proteção política. Vários homens ligados à organização de Rafaat chegaram a se candidatar em várias ocasiões, principalmente no Paraguai”, escreveu o jornal ABC Color, um mês após a morte do narcotraficante.
Empresário e agricultor no Paraguai e traficante condenado no Brasil. Essa era a vida de Jorge Rafaat. Em 2013, ele seu irmão Joseph Rafaat Toumani e Luiz Carlos da Rocha foram condenados pelo juiz federal Odilon de Oliveira.
Cabeça Branca pegou 34 anos de cadeia, Jorge Rafaat foi condenado a 47 anos de prisão e seu irmão Joseph a 15 anos. Mesmo antes da sentença, Cabeça Branca já tinha desaparecido e seu paradeiro e desconhecido até hoje.
Novos tempos – No ano passado, poucos meses antes de Rafaat ser morto, o Departamento Especializado de Luta contra o Narcotráfico do Paraguai havia iniciado uma investigação contra ele por lavagem de dinheiro vinculado ao narcotráfico.
Para policiais paraguaios, Rafaat morreu porque tentou manter na fronteira a estrutura mafiosa que herdou de Fahd Jamil, em que existia apenas um dono do poder. Esse método contrariava os planos das facções criminosas, que atuam como cooperativas e dividem os lucros e os prejuízos.
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