Publicado em 16/07/2017 às 22:38,

Sem-terra transformam a BR-262 em rodovia dos acampamentos

Redação,

Quem sai de Campo Grande sentido Aquidauana pela BR-262, estrada que é caminho para os municípios pantaneiros, notou o crescimento às margens da rodovia de acampamentos de sem-terra espalhados, principalmente em dois pontos: na região de Terenos, na altura do km 407, e no entorno do trevo de acesso a Dois Irmãos do Buriti. É possível ver barracos prontos, outros em formação e o movimento frequente de veículos, alguns ocupando o acostamento.

Ao todo, cinco movimentos representantes dos sem-terra são responsáveis pelos acampamentos, montados por variados motivos, seja como forma de protesto ou até com suposta autorização do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). “As pessoas podem ter certeza, a BR-262 vai ser a rodovia dos acampamentos”, define Rosana Correia, 40 anos, umas das líderes da MAF (Movimento Sul-Mato-Grossense da Agricultura Familiar), com acampamento em Terenos.

A situação que mais chama atenção é em Dois Irmãos do Buriti. Desde o dia 8 de junho, barracas vêm sendo montadas às margens não só da BR-262 como na via de acesso à cidade, ao longo de aproximadamente 21 quilômetros de extensão. Bandeiras demarcam a que entidade pertence o acampamento erguido. O Campo Grande News identificou pelo menos três: Movimento Novo, MCLRA (Movimento Camponês de Luta pela Reforma Agrária) e o mais famoso deles, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).

Na tarde deste sábado (15), a reportagem contou ao menos 23 barracos na BR-262, do lado da pista sentido Capital, demarcada com a bandeira do MCLRA, muitos deles incompletos, somente com a armação construída e ainda não cobertos.

A recepção dos acampados é com desconfiança. Um grupo que se identifica como liderança da entidade se recusa a falar com a reportagem. “Não tem o que dizer nesse momento. Não é a hora. A gente não quer se posicionar. Quando for preciso procuraremos o seu jornal”, disse um homem idoso, que se recusa a dar o nome.

Por todo o trecho de responsabilidade do MCLRA, os líderes seguiram a reportagem de carro e evitaram que houvesse o contato com os lavradores.

Chegando à rotatória, a tradicional bandeira vermelha indica que o trecho agora é de responsabilidade do MST. Léa Boas, 41 anos, é a incumbida de ser entrevistada. E explica: são cerca de 150 famílias atualmente, em um espaço que calculam ter capacidade até para 300.

“É um acampamento aberto, quem quiser só aparecer e ajudar a construir ou finalizar (seu barraco)”, disse a líder. Ela afiram que, por enquanto, quase todos os ocupantes são ex-funcionários de fazendas da região que se engajaram no movimento nos últimos anos. É possível ver animais, de galinhas a porcos e bovinos, além dos bichos domésticos. (Veja vídeo abaixo)

No trecho do MST, a situação é mais estabelecida: há mais barracos, prontos ou em construção. Aproveitando o final de semana, muitos dos novos moradores, avessos à entrevistas, descarregavam utensílios domésticos ou material para cobrir as estruturas pré-moldadas de madeira, o alicerce.

As moradias são humildes e a estrutura segue o padrão habitual de outros acampamentos do MST. Por ser novo, ainda será erguida a sede do acampamento, não nomeado. Tudo é improvisado, como banheiro e alimentos, entre os moradores. 

“Viemos para ficar”, garantiu Léa, revelando que a principal motivação é política, protestar contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB). “Precisamos chamar a atenção para a nossa causa em um momento de decisões prejudiciais ao trabalhador que são decididas em Brasília.”

Por enquanto, o clima é de tranqüilidade, garantiu a líder camponesa. “Os seguranças das fazendas estão nos tratando bem. Vamos ver até quando”, refletiu.

União – A 40 quilômetros dali, sentido Campo Grande, Rosana, do MAF, fala da importância das entidades de luta pela terra se unirem. Mas diz que seu grupo não tem aspirações políticas. “Aqui defendemos apenas a bandeira da causa, sem partidarismo”, garantiu. “Não adianta defender um lado e depois a luta ser interrompida porque quem apoiamos saiu do poder.”O acampamento Estrela 10 é organizado. As barracas dão lugar às construções de madeira, muitas com banheiro próprio e condições mais dignas. Os barracos são numerados, o controle é acirrado. Ao todo, são 600 famílias alojadas às margens da BR-262.Responsável pelas 220 famílias que ocupam o trecho de quatro quilômetros em Terenos, a líder diz que a maioria dos moradores veio de área na região da Ponte do Grego, ainda na zona rural da cidade, onde desocuparam uma fazenda após negociações com o Incra. Ganharam ‘permissão’ para se instalar na rodovia após reunião há 45 dias na sede do órgão federal na capital federal, há 45 dias. E há um mês ergueram suas moradias.“Queremos que o Incra cumpra o que nos prometeu, repita o entusiasmo mostrado. Nossa parte estamos fazendo”, disse Rosana, mostrando que as lideranças fazem tudo o possível para manter a organização. “Não queremos baderna, queremos as terras mapeadas pelo Incra. Inclusive se alguém aqui encostar na cerca (da fazenda) está fora imediatamente. Mas vamos pressionar e não negociamos mais. Sair daqui só para nosso lote.”Expectativa que cativa quem chega. Na tarde deste sábado, novos moradores ocupavam os últimos barracos vazios. E alguns terminavam de se ajeitar. Era o caso de Cristiane de Mello, 40, que junto do marido montava o espaço ganho.No barraco de chão de terra, cama e guarda-roupa dividem espaço com geladeira e fogão. O banheiro é uma privada ligada à fossa artesanal montada no acampamento. Do lado de fora, uma pia improvisada guarda as louças. Rodeado de animais domésticos, como cachorros e papagaios, que dividem espaço com as lembranças de toda uma vida passada na roça: filhotes de porcos, galinheiro e até um bezerro.“Meu pai tem um histórico de luta grande, já passou por isso há 20 anos atrás, chegou a minha vez”, disse Cristiane, orientando o marido enquanto ele prepara uma horta aos fundos do barraco.O casal se conheceu há dez meses, na fazenda onde eram empregados. Foi o marido quem disse do movimento. Ela aceitou se juntar, afinal diz que chegou a vez de ganhar seu pedaço de chão. “É um sonho. E temos de correr atrás”, afirma.A frase resume o pensamento de quem topa falar sobre a vida em um dos acampamentos à beira da rodovia que leva ao Pantanal. Essas famílias agora fazem parte do contingente de 15 mil famílias sem-terra de Mato Grosso do Sul, segundo a última conta apresentada pelo Incra.

União – A 40 quilômetros dali, sentido Campo Grande, Rosana, do MAF, fala da importância das entidades de luta pela terra se unirem. Mas diz que seu grupo não tem aspirações políticas. “Aqui defendemos apenas a bandeira da causa, sem partidarismo”, garantiu. “Não adianta defender um lado e depois a luta ser interrompida porque quem apoiamos saiu do poder.”

O acampamento Estrela 10 é organizado. As barracas dão lugar às construções de madeira, muitas com banheiro próprio e condições mais dignas. Os barracos são numerados, o controle é acirrado. Ao todo, são 600 famílias alojadas às margens da BR-262.

Responsável pelas 220 famílias que ocupam o trecho de quatro quilômetros em Terenos, a líder diz que a maioria dos moradores veio de área na região da Ponte do Grego, ainda na zona rural da cidade, onde desocuparam uma fazenda após negociações com o Incra. Ganharam ‘permissão’ para se instalar na rodovia após reunião há 45 dias na sede do órgão federal na capital federal, há 45 dias. E há um mês ergueram suas moradias.

“Queremos que o Incra cumpra o que nos prometeu, repita o entusiasmo mostrado. Nossa parte estamos fazendo”, disse Rosana, mostrando que as lideranças fazem tudo o possível para manter a organização. “Não queremos baderna, queremos as terras mapeadas pelo Incra. Inclusive se alguém aqui encostar na cerca (da fazenda) está fora imediatamente. Mas vamos pressionar e não negociamos mais. Sair daqui só para nosso lote.”

Expectativa que cativa quem chega. Na tarde deste sábado, novos moradores ocupavam os últimos barracos vazios. E alguns terminavam de se ajeitar. Era o caso de Cristiane de Mello, 40, que junto do marido montava o espaço ganho.

No barraco de chão de terra, cama e guarda-roupa dividem espaço com geladeira e fogão. O banheiro é uma privada ligada à fossa artesanal montada no acampamento. Do lado de fora, uma pia improvisada guarda as louças. Rodeado de animais domésticos, como cachorros e papagaios, que dividem espaço com as lembranças de toda uma vida passada na roça: filhotes de porcos, galinheiro e até um bezerro.

“Meu pai tem um histórico de luta grande, já passou por isso há 20 anos atrás, chegou a minha vez”, disse Cristiane, orientando o marido enquanto ele prepara uma horta aos fundos do barraco.

O casal se conheceu há dez meses, na fazenda onde eram empregados. Foi o marido quem disse do movimento. Ela aceitou se juntar, afinal diz que chegou a vez de ganhar seu pedaço de chão. “É um sonho. E temos de correr atrás”, afirma.

A frase resume o pensamento de quem topa falar sobre a vida em um dos acampamentos à beira da rodovia que leva ao Pantanal. Essas famílias agora fazem parte do contingente de 15 mil famílias sem-terra de Mato Grosso do Sul, segundo a última conta apresentada pelo Incra.

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