Publicado em 28/02/2017 às 19:27,
A regulamentação do serviço do Uber, feita por decreto da Prefeitura de Campo Grande nesta semana, será proveitosa apenas para os donos dos alvarás dos táxis, afirmaram os curiangos, motoristas auxiliares, que pagam diárias aos proprietários regularizados pela administração municipal. Segundo eles, a única saída para que todos trabalhassem em pé de igualdade seria acabar com o oligopólio dos alvarás que existe há anos na cidade.
Em Campo Grande, uma única pessoa pode ter até 40 alvarás de táxi, deixando os motoristas reféns do oligopólio que detém as poucas licenças. Assim, os curiangos, para trabalhar, precisam pagar aos chefes. Na prática, regularizar a Uber é dar mais crédito aos empresários do táxi na cidade.Muitos motoristas não acreditam que a regulamentação do Uber vá equipará-los aos táxis, já que os verdadeiros donos dos alvarás seguem lucrando com a exploração do serviço por meio dos aluguéis caríssimos.Os auxiliares disseram que dos cerca de 500 alvarás de táxis em Campo Grande, “mais de 90%”, são conduzidos pelos curiangos, que pagam diárias aos donos dos alvarás. Uma diária chega a custar R$ 230 e o quilômetro rodado varia de R$ 0,80 a R$ 1,00.No final das contas, a média do ganho mensal do auxiliar gira em torno de R$ 1,7 mil. Já o dono do táxi, a cifra que pode alcançar R$ 6 mil mensais pelas contas dos auxiliares. Aqui em Campo Grande, uma só pessoa é dona de 40 alvarás, segundo auxiliares ouvidos pela reportagem. Ou seja, se confirmado o cálculo do curiango, esta pessoa recebe no final do mês R$ 240 mil sem fazer esforço. A ideia dos curiangos é que a prefeitura reveja as distribuições dos alvarás e impeça que “apenas alguns sejam donos de 10, 20, até 40 alvarás”, afirmou um auxiliar que trabalha há quase 30 anos em ponto situado na parte central da cidade.Redução nos preços Após a regulamentação, o prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad havia dito que o preço por coprrida poderia ser reduzido em até 40% com a normatização, mas foi rebatido pelos motoristas de táxi. “Isso só seria bom para nós se ele [prefeito] acabasse com o ‘monopólio’ que reina há décadas neste setor”, disse um auxiliar que atua há 16 anos como taxista em Campo Grande. No caso, a crítica atinge a prefeitura, que teria nas três últimas décadas priorizado as distribuições dos alvarás, segundo os curiangos, aos “apadrinhados políticos”, não a eles.Essa discussão já dura anos na cidade, mas esquentou mais desde a semana passada com o anúncio da regulamentação da Uber, atividade que faz o mesmo serviço dos taxistas. E por até a metade do preço. Em 2014, o Jornal Midiamax apontou que uma licença pode custar até R$ 70 mil no mercado paralelo dos alvarás. O jornal ouviu seis taxistas auxiliares e todos eles discordaram da afirmação do prefeito. “Essa medida agradaria os donos dos taxis, não a nós”, disse um auxiliar que atua na região do conjunto Coophatrabalho.Os outros ouvidos trabalham no centro e também em bairros da cidades.Nenhum deles quis se identificar por temer a perda do emprego.Mudança nas regrasApós pressão popular, o prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) anunciou mudanças que serão feitas ao decreto que regulamentou a Uber em coletiva nesta segunda-feira (27). As alterações vão ocorrer por meio de portaria assinada pelo diretor-presidente da Agetran (Agência Municipal de Trânsito e Transporte), Janine Lima Bruno. Os motoristas terão 180 dias para regularizar a situação e ao invés de 490, o número de condutores vai ser elevado para 980, o total de carros continua o mesmo.Isso porque cada motorista poderá cadastrar um auxiliar para revezar o veículo que terá adesivo com os dizeres ‘estou legal’ para demostrar que é regularizado. A produção da colagem ficará por conta da Agetran. Marquinhos se comprometeu a estudar a possibilidade de aumentar o total de veículos e disse que vai levar o assunto à Câmara Municipal.“O político tem que ouvir o povo e eu sempre fiz isso”, disse o prefeito. Ele garantiu que a portaria estava pronta e seria colocada em prática após o feriado do Carnaval, mas diante do clamor popular, principalmente por meio das redes sociais, resolveu adiantar. A publicação será feita até a próxima sexta-feira (3).
Em Campo Grande, uma única pessoa pode ter até 40 alvarás de táxi, deixando os motoristas reféns do oligopólio que detém as poucas licenças. Assim, os curiangos, para trabalhar, precisam pagar aos chefes. Na prática, regularizar a Uber é dar mais crédito aos empresários do táxi na cidade.
Muitos motoristas não acreditam que a regulamentação do Uber vá equipará-los aos táxis, já que os verdadeiros donos dos alvarás seguem lucrando com a exploração do serviço por meio dos aluguéis caríssimos.
Os auxiliares disseram que dos cerca de 500 alvarás de táxis em Campo Grande, “mais de 90%”, são conduzidos pelos curiangos, que pagam diárias aos donos dos alvarás. Uma diária chega a custar R$ 230 e o quilômetro rodado varia de R$ 0,80 a R$ 1,00.
No final das contas, a média do ganho mensal do auxiliar gira em torno de R$ 1,7 mil. Já o dono do táxi, a cifra que pode alcançar R$ 6 mil mensais pelas contas dos auxiliares. Aqui em Campo Grande, uma só pessoa é dona de 40 alvarás, segundo auxiliares ouvidos pela reportagem. Ou seja, se confirmado o cálculo do curiango, esta pessoa recebe no final do mês R$ 240 mil sem fazer esforço.
A ideia dos curiangos é que a prefeitura reveja as distribuições dos alvarás e impeça que “apenas alguns sejam donos de 10, 20, até 40 alvarás”, afirmou um auxiliar que trabalha há quase 30 anos em ponto situado na parte central da cidade.
Redução nos preços
Após a regulamentação, o prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad havia dito que o preço por coprrida poderia ser reduzido em até 40% com a normatização, mas foi rebatido pelos motoristas de táxi.
“Isso só seria bom para nós se ele [prefeito] acabasse com o ‘monopólio’ que reina há décadas neste setor”, disse um auxiliar que atua há 16 anos como taxista em Campo Grande. No caso, a crítica atinge a prefeitura, que teria nas três últimas décadas priorizado as distribuições dos alvarás, segundo os curiangos, aos “apadrinhados políticos”, não a eles.
Essa discussão já dura anos na cidade, mas esquentou mais desde a semana passada com o anúncio da regulamentação da Uber, atividade que faz o mesmo serviço dos taxistas. E por até a metade do preço. Em 2014, o Jornal Midiamax apontou que uma licença pode custar até R$ 70 mil no mercado paralelo dos alvarás.
O jornal ouviu seis taxistas auxiliares e todos eles discordaram da afirmação do prefeito. “Essa medida agradaria os donos dos taxis, não a nós”, disse um auxiliar que atua na região do conjunto Coophatrabalho.Os outros ouvidos trabalham no centro e também em bairros da cidades.
Nenhum deles quis se identificar por temer a perda do emprego.
Mudança nas regras
Após pressão popular, o prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) anunciou mudanças que serão feitas ao decreto que regulamentou a Uber em coletiva nesta segunda-feira (27). As alterações vão ocorrer por meio de portaria assinada pelo diretor-presidente da Agetran (Agência Municipal de Trânsito e Transporte), Janine Lima Bruno. Os motoristas terão 180 dias para regularizar a situação e ao invés de 490, o número de condutores vai ser elevado para 980, o total de carros continua o mesmo.
Isso porque cada motorista poderá cadastrar um auxiliar para revezar o veículo que terá adesivo com os dizeres ‘estou legal’ para demostrar que é regularizado. A produção da colagem ficará por conta da Agetran. Marquinhos se comprometeu a estudar a possibilidade de aumentar o total de veículos e disse que vai levar o assunto à Câmara Municipal.
“O político tem que ouvir o povo e eu sempre fiz isso”, disse o prefeito. Ele garantiu que a portaria estava pronta e seria colocada em prática após o feriado do Carnaval, mas diante do clamor popular, principalmente por meio das redes sociais, resolveu adiantar. A publicação será feita até a próxima sexta-feira (3).
Midiamax