Publicado em 07/02/2017 às 15:23,
Oferecido pelo governo federal para atuar até em presídios, o Exército encolheu sua presença física na fronteira de Mato Grosso do Sul.
Coincidentemente, rota do tráfico internacional de drogas e armas, principais fontes de energia das facções criminosas que protagonizaram massacres com mais de 100 mortes no sistema penitenciário. A sinuosa fronteira com Paraguai e Bolívia tem 1.517 quilômetros de extensão.
Desde 2014, destacamentos foram desativados em Paranhos, Coronel Sapucaia e Sete Quedas. Com 13.674 habitantes, Paranhos faz fronteira seca com o Paraguai e tem projeção nas notícias policiais, como em 2015, onde cinco pessoas foram mortas numa chacina, que contabilizou 100 tiros de fuzil.
A cidade também é habituada ao toque de recolher. Em 2016, homens armados circularam pela cidade alertando que os comércios deveriam ser fechados à noite. A medida antecedeu a execução de um policial civil, morto na academia.
“O Exército é bem vindo em qualquer situação, principalmente na região de fronteira. É um órgão muito respeitado pelo que representa para a nação. A credibilidade é muito maior. E ficou um pouco descoberta a área de fronteira”, afirma o prefeito de Paranhos, Dirceu Bettoni (PSDB).
Ele destaca que, em geral, os municípios menores têm baixo número de efetivo policial, enquanto que em apenas uma barreira, o Exército disponibiliza 35 homens. “Não estou dizendo que está jogado às traças, mas a presença do Exército cairia muito bem”, diz o prefeito. Paranhos faz fronteira seca com Ypejú.
A expectativa é de que a visita feita pelo prefeito em janeiro ao comando do 17º Regimento de Cavalaria Mecanizada, em Amambai, resulte em mais barreiras no município.
Localizada a 471 quilômetros de Campo Grande, com 10.811 habitantes e na fronteira com Corpus Christi (Paraguai), a cidade de Sete Quedas organizou um Conselho de Segurança na luta contra a violência.
A principal dor de cabeça para os moradores eram os roubos. Segundo o prefeito Francisco Piroli (PSDB), o conselho atua há oito anos e é formado por voluntários como comerciantes, advogados, juiz, promotor. Uma das medidas foi a troca do policiamento dos dois lados da fronteira.
“Todo mundo se envolve, resolveu 90% porque alguma coisa sempre tem. Mas graça a Deus, praticamente, estamos vivendo no céu. Os policiais são muito bons, de primeira qualidade, pessoas que conhecem a fronteira há muito tempo”, afirma o prefeito. Atualmente, também, o município conta com apenas uma viatura.
Na outra ponta da fronteira, na Bolívia, o Exército ensaiou redução em Corumbá. Em junho de 2016 foi anunciada a desativação da 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira Ricardo Franco, construída na década de 1940. Mas o local prosseguiu aberto.
Guerra particular – Nas cidades fronteiriças, impera uma lógica de que a violência é uma questão particular entre os grupos que disputam o controle do crime; “Em relação à chacina, foi entre grupos rivais. Sempre tem atrito entre eles”, diz o prefeito de Paranhos.“São vários homicídios na fronteira, mas nem sabe de onde é. É entre eles mesmos. Veio e matou dois. Depois, mata dois dos outros. Na fronteira, você não pode deitar e dormir, tem que ficar de olho”, afirma o prefeito de Sete Quedas, sobre a necessidade de manter um providencial estado de alerta.Vizinha a Capitan Bado, grande produtor de maconha, Coronel Sapucaia também é terra de fronteira e marca presença no Mapa da Violência. Em 2014, o município apareceu no ranking dos 100 municípios mais violentos do Brasil.Da fronteira com Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, veio um dos assassinatos que impressionou pelo aparato utilizado para matar o traficante e empresário Jorge Rafaat Toumani. Foi utilizado armamento antiaéreo no crime ocorrido em junho de 2016.Historicamente - “A questão da fronteira é que historicamente nunca houve investimento na área. Estamos vendo como está o sistema penitenciário no Brasil justamente pela ausência dos investimentos. Os nossos policiais, em especial o DOF [Departamento Especial de Operações de Fronteira], praticamente estão trabalhando para a União. Porque desenvolve uma função inerentemente federal, que é o combate ao tráfico internacional de drogas”, afirma o procurador de Justiça Helton Fonseca Bernardes, que também foi secretário-adjunto da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública.Membro do MPE (Ministério Público Estadual), ele lembra a vocação do Estado para ser passagem do tráfico internacional, realidade que drena a atenção da atividade policial. “As drogas vêm do Paraguai e Mato Grosso do Sul é caminho, é uma estrada. A maioria da apreensão que nós temos de substâncias entorpecentes estava indo para fora. O que acontece? Ao concentrar essas atividades policiais para o combate a esse tipo de crime, as cidades acabam ficando desguarnecidas. E a facilidade do cidadão entrar e sair do País, um controle federal, não é desenvolvido a contento”, afirma o procurador.No ano passado, o Estado manteve a dianteira na apreensão de drogas. De acordo com a PF (Policia Federal), foram 87,3 toneladas de maconha, o que deu a Mato Grosso do Sul a liderança nacional. Já a cocaína totalizou 4,5 toneladas. Em 2016, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) apreendeu 116 toneladas de maconha e 2,9 toneladas de cocaína nas vias federais que cortam o Estado.Em junho de 2016, um quilo de cocaína valia R$ 20 mil em Campo Grande. Em São Paulo, a cotação do pó era de R$ 27 mil o quilo. Na Ásia, a mesma quantidade pode custar cem mil dólares.
Guerra particular – Nas cidades fronteiriças, impera uma lógica de que a violência é uma questão particular entre os grupos que disputam o controle do crime; “Em relação à chacina, foi entre grupos rivais. Sempre tem atrito entre eles”, diz o prefeito de Paranhos.
“São vários homicídios na fronteira, mas nem sabe de onde é. É entre eles mesmos. Veio e matou dois. Depois, mata dois dos outros. Na fronteira, você não pode deitar e dormir, tem que ficar de olho”, afirma o prefeito de Sete Quedas, sobre a necessidade de manter um providencial estado de alerta.
Vizinha a Capitan Bado, grande produtor de maconha, Coronel Sapucaia também é terra de fronteira e marca presença no Mapa da Violência. Em 2014, o município apareceu no ranking dos 100 municípios mais violentos do Brasil.
Da fronteira com Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, veio um dos assassinatos que impressionou pelo aparato utilizado para matar o traficante e empresário Jorge Rafaat Toumani. Foi utilizado armamento antiaéreo no crime ocorrido em junho de 2016.
Historicamente - “A questão da fronteira é que historicamente nunca houve investimento na área. Estamos vendo como está o sistema penitenciário no Brasil justamente pela ausência dos investimentos. Os nossos policiais, em especial o DOF [Departamento Especial de Operações de Fronteira], praticamente estão trabalhando para a União. Porque desenvolve uma função inerentemente federal, que é o combate ao tráfico internacional de drogas”, afirma o procurador de Justiça Helton Fonseca Bernardes, que também foi secretário-adjunto da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública.
Membro do MPE (Ministério Público Estadual), ele lembra a vocação do Estado para ser passagem do tráfico internacional, realidade que drena a atenção da atividade policial. “As drogas vêm do Paraguai e Mato Grosso do Sul é caminho, é uma estrada. A maioria da apreensão que nós temos de substâncias entorpecentes estava indo para fora. O que acontece? Ao concentrar essas atividades policiais para o combate a esse tipo de crime, as cidades acabam ficando desguarnecidas. E a facilidade do cidadão entrar e sair do País, um controle federal, não é desenvolvido a contento”, afirma o procurador.
No ano passado, o Estado manteve a dianteira na apreensão de drogas. De acordo com a PF (Policia Federal), foram 87,3 toneladas de maconha, o que deu a Mato Grosso do Sul a liderança nacional. Já a cocaína totalizou 4,5 toneladas. Em 2016, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) apreendeu 116 toneladas de maconha e 2,9 toneladas de cocaína nas vias federais que cortam o Estado.
Em junho de 2016, um quilo de cocaína valia R$ 20 mil em Campo Grande. Em São Paulo, a cotação do pó era de R$ 27 mil o quilo. Na Ásia, a mesma quantidade pode custar cem mil dólares.
Atrasado - Lançado em 2012, o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira) deveria ser implantado nos 17 mil km de fronteiras brasileiras até 2021, mas esse prazo dificilmente será cumprido. O programa, com orçamento total de R$ 12 bilhões, enfrenta contingenciamento de recursos.Após quase dois anos de fase de testes e instalação de radares, torres de comunicação, cabos de fibra ótica e sensores de movimento, o projeto-piloto do Sisfron foi ativado em 2014 em Dourados. A reportagem solicitou informações à assessoria de imprensa do CMO (Comando Militar do Oeste) sobre o Sisfron.
Atrasado - Lançado em 2012, o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira) deveria ser implantado nos 17 mil km de fronteiras brasileiras até 2021, mas esse prazo dificilmente será cumprido. O programa, com orçamento total de R$ 12 bilhões, enfrenta contingenciamento de recursos.
Após quase dois anos de fase de testes e instalação de radares, torres de comunicação, cabos de fibra ótica e sensores de movimento, o projeto-piloto do Sisfron foi ativado em 2014 em Dourados. A reportagem solicitou informações à assessoria de imprensa do CMO (Comando Militar do Oeste) sobre o Sisfron.
Campo Grande News