A Santa Casa de Campo Grande trabalha em equipe para que Yago, que resiste há um mês no ventre da mãe com morte encefálica, sobreviva.
O caso inédito em Mato Grosso do Sul também é marcado por troca de informações com médicos do Espírito Santo e Portugal, onde houve situação similar. Com a morte encefálica da paciente Renata Souza Sodré, 22 anos, o nascimento do bebê é uma aposta de alto risco.
“É muito difícil um caso como esse porque além do risco de morte, tem o risco de infecção. Tudo compromete a viabilidade do nascimento dessa criança”, afirma a médica intensivista
Patrícia Berg Leal, responsável pela UTI (Unidade de Terapia de Intensiva). Ainda de acordo com ela, são 35 casos similares no mundo.
Após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral) em 27 de janeiro, Renata teve a morte cerebral constatada por dois exames clínicos mais exame de imagem. Os exames também apontaram que o feto vivia e entrava na 17ª semana.
Com o caso explicado à família e acompanhado pela Comissão de Ética do hospital, começou a administração diária de medicamentos, pois, com a morte cerebral, o corpo para de produzir hormônios.
“São medicamentos que são aplicados de forma contínua, ininterrupta. Que vão prevenir e que vão estimular reações dentro do corpo estimuladas pelo cérebro”, explica a médica. O maior receio é de infecção que pode antecipar o parto. Hoje, com 23 semanas, o feto não tem sistemas nervoso nem pulmonar formados. Há duas semanas, o bebê não tinha nem pálpebras.
Contra o risco de infeção, o trabalho envolve todos os setores da UTI, da limpeza ao corpo clínico. A médica esclarece que a paciente recebe a mesma atenção das demais pessoas internadas na terapia intensiva, que, por atender os casos graves, tem regras rígidas de funcionamento.
A gestação deve ser mantida, pelo menos, até a 28ª semana (sete meses). Segundo a médica, não há como prever sequelas. A gravidez é monitorada por exames e ultrassons todos os dias. As imagens mostram um bebê com formação normal e bem ativo. “É uma novidade a cada dia”, diz Patrícia.
Quando os aparelhos forem desligados, os órgãos de Renata devem ser doados. De acordo com Ana Paula das Neves, da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para transplante, a doação vai depender do desenvolvimento da gravidez.
A causa do AVC na gestante de 22 anos não será esclarecida porque a morte cerebral cessa a circulação de sangue no órgão. Na gestação, as paredes vasculares ficam mais frágeis devido à ação de hormônios.
Drama – A família de Renata vive entre a dor da despedida e a espera por um milagre. “Peço para ela acordar, falo para meu sobrinho cutucar bastante para ela acordar. Tenho fé. Não acredito que ela faleceu, creio no Deus do impossível”, diz a irmã Adrielli de Souza Avalos dos Santos, 20 anos.
O marido Eduardo Noronha, 25 anos, conta que Renata nem sabia o sexo da criança, pois, na última vez que ela pôde acompanhar o exame, não foi possível saber se viria menino ou menina. Porém, ela já havia escolhidos os nomes.
“Tenho que ser forte. Porque há todas possibilidades e riscos. Pode não dá certo, nascer uma criança especial. Mas decidi porque o maior desejo dela era se mãe”, diz. Entre namoro e casamento, foram oito anos de relacionamento.
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