Publicado em 06/04/2017 às 15:46,

Avanço da soja e milho pode ter relação com sumiço da maior cachoeira de MS

Redação,

O avanço da agricultura e o desmatamento alteram o ciclo natural da água. É o que indicam as pesquisas científicas e é, também, o temor do gerente da fazenda Boca da Onça, Roni Queiroz, que acompanha a ‘seca’ na maior cachoeira de Mato Grosso do Sul. Conforme explicou, a diminuição da chuva é responsável pelo menor volume de água da cachoeira nos últimos meses. Durante esse período de estiagem, Roni afirma que o local tem água de manhã e seca durante a tarde.

“O que acontece é que desde o mês de novembro estamos com período de seca na região. Então, chove parcialmente. Tem locais que chove e outros não. Na parte da manhã, ela tem água. Quando é 12h, devido ao vento e ao sol, essa água sai da cachoeira, ela acaba virando uma neblina e sai da cachoeira”, comentou.

Avanço das lavouras

A cachoeira é abastecida pelo córrego boca da onça, que se alimenta de nascentes na região. A água, no entanto, interdepende do volume de chuva, um ciclo que envolve a preservação da vegetação e das nascentes.

A preocupação de Roni, é que a degradação ambiental, motivada pelo avanço de lavouras de soja e milho na serra da Bodoquena, pode estar relacionada com a diminuição da chuva. De acordo com ele, janeiro de 2017 apresentou mais de 50% de diminuição na chuva com relação ao mesmo período em 2016. Ele pede mais fiscalização na região.

“Pode ser que eu esteja enganado, mas acho que esse aumento de lavouras na região da serra da Bodoquena acaba prejudicando sim. Eu concordo que tem relação. A gente acompanha não só na região de Bodoquena, mas na região de Bonito, o quanto está prejudicado. Qualquer chuvinha, por menor que seja, os rios já sujam, por exemplo”, afirmou ele.

Além do desmatamento para a plantação, Roni afirma que as lavouras estão matando as nascentes dos rios. “Sim existe em áreas próximas, se fizer um levantamento de satélite vai ver as áreas em torno de nascentes. Só pra você entender, nós temos cinco nascentes dentro da fazenda, que formam o córrego boca da onça que vai formar a cachoeira. Só pra você ter uma noção, na Boca da Onça, nós temos 2 mil hectares, 1100 é área de preservação que são justamente essas áreas de nascentes, os morros”, explica.

“Lavoura nós não temos na fazenda. Outros lugares já não estão fazendo a mesma coisa. Então não adianta um preservar, tem que ter uma ação em conjunto”, complementa.

Rios também secaram

A preocupação de Roni, além da cachoeira, um dos principais pontos turísticos do Estado, é com os rios, que também estão secando com a falta de chuva.

“Na região da Morraria do Sul, teve fazenda que secou. Lá mesmo na fazenda existem açudes que estão praticamente secos. Tem um fiozinho de água dentro da nascente. Então o que acontece é a falta de água, de chuva, na região. Estamos conseguindo administrar a situação, mas precisa urgente de chuva. Porque às vezes chove em um local, e no outro já não chove, não está sendo contínua. Isso é uma coisa que tem que averiguar, o porquê disso”, cobra ele.

Pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Pantanal, Ivan Bergier explicou sobre uma pesquisa que pode estar relacionada com a questão. O estudo foi realizado no pantanal, em Ladário, e explica a relação entre o desmatamento e a alteração do ciclo das chuvas.

“A hipótese que eu levantei a seguinte, quando você remove a cobertura vegetal do planalto, você remove o que a gente chama de esponja. Essa esponja faz o que? O que a gente chama de ciclo de água verde. Tem o ciclo da água verde e o ciclo da água azul. A água azul são os rios, a água verde é aquela água que penetra lentamente e abastece os aquíferos. E, ao mesmo tempo, essa água é evapotranspirada pela planta, que formam as nuvens, que faz chover de novo. Então, assim, que tem sofrido mais de seca no pantanal são as áreas menos influenciadas pelos rios e mais influenciadas pelas águas de chuva, dessa chuva de origem vegetal, de entorno”, relatou.

Turismo se adapta

Roni afirmou que a seca da cachoeira motivou alteração na rotina dos passeios desde o final do ano passado. É o que explicou a secretária municipal de turismo em Bodoquena, Vívian Barbosa da Cruz, que também afirma que os rios estão sem água.

“Na própria agência já é comunicado que tem pouca água”, conta. Vivian afirma que não é só a cachoeira que está sofrendo com a seca. “Não é só a cachoeira, diminuiu muito o volume de água dos rios, os rios estão baixos, devido à poucas chuvas nesse período. Esse ano choveu muito abaixo do esperado”, relatou.

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