Publicado em 15/10/2019 às 19:36,

Há 30 anos com doença, paciente é símbolo da luta contra o câncer

Correio do Estado,
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Divulgação

Há um ano morando no assentamento Eldorado II, em Sidrolândia, Rose Mary Britts Mazlon, 63 anos, está feliz com a casa nova. No local, ela cultiva flores, dez pés de jabuticaba e até maracujá. Quando precisa descansar de uma longa sessão de quimioterapia, Rose Mary deita na rede, reflete sobre a vida e a luta que precisou travar nos últimos 30 anos contra o câncer.

A escolha de viver no campo surgiu de um antigo desejo. “Antes, eu morava no Coophavila, em Campo Grande, mas não tinha tranquilidade. Então, eu decidi juntar tudo e vir, aqui não tem o estresse da cidade, você deita, capina, rastela, tenho minha plantação e aos domingos eu vou para Campo Grande, porque tem quimioterapia na segunda-feira. Na cidade era muito barulho, som, gritaria, aqui não. Você planta e você colhe”, diz Rose Mary. Como companhia, ela tem o marido, a mãe, de 86 anos, e a neta, de 17 anos. Todos aceitaram a aventura da matriarca em busca de um pouco de sossego, interrompido apenas pelo câncer.

O primeiro diagnóstico que Rose Mary recebeu foi há quase 30 anos, de um tumor na perna esquerda. Depois do tratamento e de um período de tranquilidade, ela foi surpreendida por outras variações do câncer no útero, intestino, abdômen e na mama. “O meu caso é genético. Precisei tirar o útero, uma parte do abdômen, o seio esquerdo e então tive uma trégua. Fiquei quase dez anos só no controle, apenas repetindo os exames”, explica.

Em todas essas ocasiões, Rose Mary nunca perdeu as esperanças de encontrar a cura, nem mesmo agora. “Depois do espaço de tempo, o câncer retornou no seio direito e em metástase para o pulmão. Por isso, eu tenho essa voz de Mumm-Ra”, brinca, referindo-se ao desenho Thundercats, sucesso nos anos 90.

Com o câncer no pulmão, a aposentada não desistiu e permaneceu no tratamento, mesmo ouvindo do médico que teria no máximo dois anos de vida. “Ele não é Deus, é médico, então não há como saber. Eu vivo um dia de cada vez, se não tiver jeito, não tem, mas eu tentei. Meu pulmão está todo tomado, como se fosse pipoca doce de flocos, mas eu não fico esquentando a cabeça com isso, não”, acredita.

O último trabalho que Rose Mary teve foi como secretária de um curso universitário, onde permaneceu por 12 anos. “Mas fiz de tudo um pouco nessa vida”, diz. De técnica no Hospital Universitário a bancária, a aposentada sabe que por trás de todo funcionário há uma história. “Por isso quis fazer uma homenagem à equipe do Alfredo Abrão no fim do meu primeiro ciclo de quimioterapia. Eles abdicam do momento em família para cuidar da gente, estão sempre sorrindo, abraçam, beijam, deixam seus problemas para fora, então, eu quis transmitir um pouco de carinho a todos eles, eu tenho muito carinho por eles mesmo”, diz.

Do carinho às pesquisas incessantes por tratamentos e alívios para a dor que ela e os companheiros de jornada sentem. “Sempre questiono bastante os médicos, questiono se descobriram alguma coisa diferenciada, mas no Brasil demora para chegar. Até o óleo da cannabis para o alívio de dor eu perguntei, mas são coisas que fogem da mão da gente”, reflete.

O desejo de nunca desistir ela garante que vai permanecer independentemente do diagnóstico. “Todos nós temos uma carga única, a minha ninguém vai carregar para mim. Você tem ajuda, Jeová me ajudou a carregar e eu nunca fiquei só, meus irmãos estão sempre me apoiando, de forma espiritual e material. O que eu tive de aprendizado na vida. O que eu vou levar disso aqui é a alegria, humildade, paciência. Você aprende a dar valor nas pessoas que você ama, a amar o próximo”, ressalta.

Para quem tem medo de realizar os exames preventivos, Rose Mary é categórica. “Não fiquem com medo, é melhor saber e lutar. Eu quero fazer o tratamento, não sei até quando vou manter, mas eu quero fazer. Gosto sempre de lembrar, desistir jamais, lutar sempre”.

EXAMES

Até o dia 31 deste mês, o Hospital de Câncer Alfredo Abrão (HCAA), em Campo Grande, realizará mamografias gratuitas para mulheres entre 45 e 65 anos. O exame auxilia na identificação do câncer de mama. Durante o Outubro Rosa, o hospital também oferecerá o exame de papanicolau, que detecta o câncer de colo de útero, indicado para mulheres que já tenham iniciado a vida sexual.

As pessoas interessadas devem ir diretamente no hospital, onde serão distribuídas senhas e ofertados 85 exames por dia, de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h. Os resultados serão disponibilizados em até 15 dias úteis. Informações pelo telefone 3041-6000.

A campanha é uma parceria entre o hospital, a ONG Américas Amigas, a Secretaria Municipal de Saúde e o Sesc-MS.